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Nos trabalhos periciais temos visto constantes processos motivados por acidentes envolvendo questões funcionais dos air-bags. A abordagem sobre o air-bag frontal é a mais comum por ser um item obrigatório pela legislação para os veículos produzidos a partir de 2014 no país. Entretanto, a condição básica é que, caso não seja satisfeita a desaceleração média prevista, agindo na direção e sentido compatível para cada tipo de air-bag predisposto, realmente não haverá o acionamento.

Abordando particularmente os air-bags frontais, para cada caso se deve analisar criteriosamente a grandeza da desaceleração longitudinal média envolvida na colisão frontal, sendo impreterível que a intensidade atenda a variável de controle em torno de 2,6 a 3,0g como parâmetro de desaceleração brusca. Portanto, durante a análise dos fatos os detalhes das deformações e, particularmente, da dinâmica do acidente, são dados fundamentais.

Em geral, uma intensa deformação estrutural longitudinal frontal está associada a uma desaceleração média também intensa. Entretanto, a deformação estrutural pode ter sido decorrente de deformações sequenciais (colisões múltiplas) ou quando essa ocorre em intervalo de tempo prolongado (deformação lenta). Essas características de colisões minimizam a desaceleração média envolvida no acidente. Assim, as deformações, por si só, podem não expressar uma desaceleração média significativa decorrente de um evento de colisão e, portanto, não ocorrerá a deflagração dos air-bags.

Complementa o exposto que as desacelerações ocorridas em intervalos de tempos distintos durante as colisões múltiplas não são acumulativas para o sistema air-bag. Como de conhecimento, existe um campo de sensibilidade não constante ao longo da extensão transversal da parte frontal do veículo que precisa ser considerado. A maior sensibilidade ao epicentro da colisão para deflagração dos air-bags frontais está nas regiões mais próximas das longarinas anteriores.

Colisões contra objetos delgados (barra, mourão, poste ou árvore) focados na região central da parte frontal pode não ser sensível a deflagração do air-bag frontal. As longarinas podem se deformar por flexão lateral, mas sem carregamentos longitudinais significativos, sendo, então, insensíveis ao sistema air-bag.

Importa destacar que uma vez deflagrados os air-bags não mais servirão como dispositivos de segurança passiva, caso a dinâmica do acidente não tenha terminado. Assim, lesões decorrentes dessa dinâmica contínua não poderão ser evitadas pelas bolsas air-bags já acionadas, uma vez que não há disponíveis cargas de air-bags adicionais. Para tal, espera-se que os efeitos sejam minimizados pelo uso correto do cinto de segurança, conforme prescrito no manual do proprietário do veículo, uma vez que este é o dispositivo primário de segurança passiva veicular, considerando ainda que a ação de retenção ofertada pelo air-bag é complementar a ação do cinto de segurança e de seu dispositivo pré-tensionador.

A autodiagnose existente no sistema air-bag está apta a efetuar varreduras constantes dos circuitos quanto a sua integridade funcional e alertar o condutor em caso de avaria, através o acendimento da luz espia padrão presente no quadro de instrumentos, entre outras estratégias de advertências que podem estar presentes.

Outras particularidades em destaques:

  • O estado geral de avarias ou mesmo de perda total de um veículo não é parâmetro técnico exclusivo para que a dinâmica de um acidente tivesse, impreterivelmente, requerido a deflagração dos air-bags, independente dos tipos existentes.
  • O desenvolvimento do sistema air-bag frontal e a calibração da sensibilidade foi um processo evolutivo, baseado em dados estatísticos acumulados e seguindo uma tendência, juntamente com a padronização de ensaios de colisões (crash tests) para referências de comportamentos em situações críticas e conhecidas, capazes de serem repetitivos e comparativos. Assim, os casos de acidentes cujas dinâmicas desviaram dos parâmetros conhecidos e previstos, diante das inúmeras variáveis passíveis de ocorrências nos acidentes reais (não ensaiados), são situações individuais que requerem investigações criteriosas sobre o comportamento dos air-bags, antes de se adentrar na questão da falha funcional.
  • O sistema air-bag frontal é capaz de monitorar o movimento longitudinal do veículo durante todo o uso, medindo as desacelerações ocorridas nessa direção e sentido (da frente para trás) através de sensores específicos. Isso significa que o sistema air-bag está funcional durante todo o tempo de uso do veículo, mas não somente durante o breve instante de ocorrência de uma colisão.
  • Colisões traseiras, mesmo motivem acelerações longitudinais, são insensíveis ao sistema air-bag frontal, pois ocorrem em sentido oposto ao esperado da marcha do veículo.
  • Em dinâmica de tombamento lateral, seguida ou não de capotamento simples ou múltiplo, sem a ocorrência de uma colisão frontal compatível no desenrolar do acidente, não está prevista a deflagração do sistema air-bag frontal, uma vez que não há o sincronismo esperado no espaço e tempo entre o movimento pendular lateral do corpo do usuário com a dinâmica de enchimento da bolsa air-bag frontal.
Movimento pendular do corpo do usuário ocorrido em uma colisão tipicamente frontal.
  • Reclamações de que os air-bags não funcionaram adequadamente por apresentarem as respectivas bolsas vazias pós-acidentes têm sido ainda ocorrências frequentes. As bolsas contêm aberturas na parte posterior que permitem o esvaziamento rápido depois de infladas, liberando a saída do gás que foi gerado pelo dispositivo deflagrador durante o enchimento.
  • A emissão de uma névoa dentro da cabine é normal durante a deflagração dos air-bags, não sendo indicativo de princípio de incêndio, nem se tratando de um produto tóxico. Um pó específico é aplicado sobre a bolsa durante a confecção do air-bag e age como “lubrificante” do tecido sintético, sendo criteriosamente dobrada dentro do respectivo invólucro.
  • Diversos casos de deflagrações aparentemente espontâneas de air-bags frontais foram descaracterizados por evidências de impactos contra as partes mecânicas e sob as plataformas, ocasionadas por passagens incompatíveis sobre lombadas, saliências, degraus, irregularidades das vias, ressaltos, buracos ou objetos rígidos na trajetória, sem que tenham ocorrido deformações estruturais aparentes ou danos externos de carroceria. Contudo, um pulso de impacto dessa natureza e aplicado diretamente sob as partes mecânicas abaixo da plataforma veicular e fora do campo de deformação controlada, pode ser sensível ao sistema air-bag impondo a deflagração das bolsas e/ou dos dispositivos pré-tensionadores dos cintos de segurança.
  • É normal em algumas colisões apenas o acionamento dos dispositivos pré-tensionadores dos cintos de segurança, sem a deflagração das bolsas air-bags. Isso ocorre devido ao nível da desaceleração compatível para tal, mas ainda insuficiente para a deflagração dos air-bags
  • Os air-bags podem provocar lesões e queimaduras, especialmente se o usuário não estiver numa postura correta sobre o assento e numa distância segura do air-bag.